Apenas hoje

Acordar com a ideia de que é necessário acordar, na esperança de que será menos desagradável. Ou que aceitemos melhor as pequenas e médias feridas que a vida nos causa.

Hoje. Apenas por hoje. Eu não queria viver.

Não é como o pensamento do fim. Aquele amargo de que nada nunca mais será bom. Não! É só um momento em que eu queria me recolher para um lugar relativamente isolado das minhas memórias. Onde eu não existisse dentro de mim. Dentro dos meus sentimentos e traumas.

Hoje. Apenas hoje. Eu não queria viver.

Eu poderia por a culpa no capitalismo, mas não se compra sanidade. Porém, levanto cedo (ou nem durmo), só para garantir que se um dia eu quiser voltar a estar vivo, eu terei como pagar as contas. É doente, eu sei. Mas se fosse saudável eu não estaria em terapia. Que é; acumular coisas na cabeça, a ponto de não conseguir lembrar que hoje eu não queria estar vivo.

Tendo debater entre meus demônios, qual fuga seria melhor no dia hoje? O que iremos fazer para não viver, mas, quem sabe, se manter vivo.

Hoje. Apenas hoje (e em outros dias). Eu não queria viver.

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Viagem

Eu tinha me prometido que apesar de toda a correria, eu iria dar atenção às minhas paranoias, tesão reprimido pela ausência de tempo, que faz com que a libido suba ao extremo e vá a zero em pouquíssimo tempo. Disse que voltaria quando tivesse mais coisas para dizer, além daquelas. 

Bom, sinto muito. Voltei para dizer mais do mesmo com outras palavras, enquanto torço para novas pessoas gostarem de todo esse amontoado de palavras que não parece ter sentido numa mente normal. E não, não sou especial, nem tenho angústias mais urgentes que as de todo mundo.

Apanhei de mim, e me cobrei a excelência, enquanto não sabia se ia conseguir pagar as contas. Igual Emicida; só água na geladeira e eu querendo salvar o mundo. Sem conseguir salvar ao menos o meu, sigo a saga de tentar escrever de maneira bonita.

No fim da conta, tudo isso é uma tragédia. Eu adoraria tirar o caos para dançar, enquanto toda essas alegorias vão para o buraco.

Deixa pra lá, eu devo estar viajando.

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Poder ser

3 da manhã, eu não vejo nada além das dores. 

E ninguém me vê.

E esse filme ruim,

de final triste e sem brilho, ninguém quer ver.

E se nem que escrevo (ou acho que escrevo)

Esse roteiro sem sal e comum,

sobre um fracassado que autoalimenta de uma esperança de sei lá o quê.

E que em dias de chuva se sente mais triste e sozinho,

Se isola e se esforça pra querer viver.

E por si, estar melhor, já que só escolhi, em parte, pelos outros.

"Quando vai ser só por você?"

Talvez o dia da paz ainda venha.

E talvez seja igual um dia solitário se chuva, para mim. 

Pode ser.

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