"O pensamento deve ser tão livre e extenso quanto o céu, que não prende ninguém, e ainda dá espaço pra que se possa voar."


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terça-feira, 24 de setembro de 2019

Adeus - Aleatório Necessário #6


 Nem todo adeus tem a ver com a morte. E talvez esses sejam os mais dolorosos de se viver. Morremos como nos filmes, e passa tudo o que vivemos na mente. Pessoas, momentos... Como num passeio de trem pela galeria de arte da nossa mente. Desde a infância e os amigos que não existiram, os que se foram e os que nunca foram. Dependendo da sabotagem, vêm as dores, a saudade.

 Viver machuca, e é um ato de coragem diário. Deve ser por isso que quando uma pessoa morre, para não chocar, dizem que ela "descansou", igual me disseram sobre a morte da minha vó. Eu com 14 anos, parecia mais aliviado ao saber que o sofrimento dela acabou, e pouco levei em conta a saudade que eu sentiria em dias que preciso de colo, depois de adulto, e só ela entenderia tudo isso que se passa aqui.

 A pior morte é a dos sonhos, pois sem ele, tudo vai perdendo o brilho e morrendo aos poucos. Tudo! Evitamos os sonhos grandes para evitarmos decepções grandes, e eu, viciado em resolver pequenos objetivos, morro aos poucos ao ver que matei sonhos, sem querer, e não apenas meus. Talvez renasça, quando eles voltarem, mesmo de longe e não mais para mim. 

 Não era final de Copa, mas ainda entendo a beleza das coisas, apesar de fazer parte de menos coisas que queria, e ter aceitado o fracasso como terapia para a decepção. Quem não tenta não aprende, mas eu não preciso ser sábio demais para ver que sou apenas um menino de 13 anos, olhando um homem se afogando aos poucos. Eu jurava que ele sabia nadar, mas tava se afogando enquanto negava a ajuda. A morte por sentimentos é a pior que existe.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

ALVO



Antes as nossas panelas vazias,
inspiravam tudo, menos mudanças.
E o que era som, ritmo, campanha,
se torna cada dia; guerra, tiros, agonia...
Do que importa essa poesia?

Morreu mais uma criança no morro.
Hoje cedo era alegria, pobre e preto,
pro estado é alergia.
Atira primeiro depois pergunta,
desculpa Belchior, 
ando tentando, andando de mãos para cima.
Que toda rima fosse felicidade.
Andamos com medo, e quem mata deveria cuidar,
socorro.
Ano passado morri, 
e esse ano estão garantindo que também morro.

Antes fosse dia de parque.
Conviver com medo, armas e tapas na cara.
Tiraram uma vida, a paz de outras,
o critério é sua cor, seu jeito era suspeito.
Quem fala de cima ainda não andou com alvo no peito,
ainda não entendeu que o sonho de ir à Disney é pouco.
O sonho da gente é não levar bala sem razão,
virar estatística de mais um caso "isolado".
Sonho de favelado é não ser assassinado pelo estado.
Sonho imundo, louco.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

As Razões de Um Louco #96 - Tempero

 É muito difícil largar o passado quando ele é agradável, e o que passou traz menos coisas contra mim do que o que pode ser daqui em diante. Lembrar que eu superei tantas dificuldades gera mais motivação que dor. Lembrar da minha vó, com carinho, laranjas e fim de tarde. Antes da poesia, das dúvidas, dívidas e boletos me faz bem. Minha tia e nossas risadas, amigos e os sonhos do futuro que chegou sem alguns deles, mas chegou e estamos aí, estou "bem".

 É difícil amadurecer quando ser jovem é mais legal, menos pesado, menos depressivo "as vezes". E a medida que vamos tendo repetidos processos de coisas boas, elas ficam chatas, entediantes e a vida vai perdendo o brilho, restando o passado como refúgio emocional.

Ouvindo música para refrescar a mente em uma playlist onde há músicas para relembrar, e há saudade de quando o corpo acusava menos as dores. Apesar de tudo, saudades. Percebi que ser adulto é complicado demais quando a comida ainda tem o mesmo sabor da infância, a culpa é de mainha! O sonho de sair dali quando novo, agora parece pequeno, diante da vontade de voltar para casa, todos os dias. O futuro pode ser uma caixa de surpresas, uma monotonia. Bom ou ruim. O passado eu lido bem, saudades... E sobre o que passou, está tudo bem, entre lágrimas e sorrisos, bem.

 Existe dois momentos que não se deve sofrer; pelo que já passou e pelo que ainda nem sabemos se vai chegar. Sobre ser imaturo; é tudo culpa do tempero de mainha.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

HOT



Queimava igual a mente, ardia igual a dor
Batia forte igual o mar na costa,
Era firme,
Nesse filme, eu era vilão,
protagonista e diretor.

Ardia, mas era unhas na pele,
junção de prazeres e traumas.
O olhar, brisa calma.
Nas mãos, maremoto.

É hoje que eu mato a vontade,
depois de fazer tremer,
eu posso até morrer.
E se a saudade bater,
que todas as marcas sejam gostosas, gozadas,
pouco pensadas,
impulso.

Que queime igual o sol, no seu corpo, minhas mãos nele.
Que queime igual as lembranças ruins, na mente.
Fogo que aumenta a libido,
e que a parte mais down disso,
seja eu de joelhos orando,
me banhe com seu prazer,
é isto.

Continuo pegando referências que não vivi,
Dois olhares,
dois lugares,
duas ou mais fodas,
e vai arrepiar e queimar.
Fogo!

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

16 DE SETEMBRO



Dores e descaso, 
década de 90 e nem sabia se era menino ou menina,
era humano!
Vinte e oito anos depois era menino, mano.
Lila lavava roupa comigo na barriga,
sonhava com a minha barriga cheia quando criança,
falava sobre ser preto, as dificuldades.
Dizia que não andasse com quem tem arma,
sobre estar abaixo de tudo, e ser o melhor que puder, esforço.
Me colocou acima e mesmo estando lá, 
pouco me senti no fundo poço.

Me armei de ideias desde sempre,
conversando com amigos imaginários e treinando situações.
Era eu, meu mundo eu, herói e seus vilões.
Desenhava, pintava, escrevia e sonhava...
Em ser 10, camisa 10! 
Era preto e tinha ódio por estar fora dos padrões,
fazia de tudo pra melhorar, e era tudo errado (ou parecia).
As vezes bate saudades dos conselhos de Maria...

As vezes a vida bate,
as vezes a vida imita a arte,
irrita a morte.
Enlouquece e sobre loucura entendo bem,
o homem supostamente foi à lua,
eu em várias brisas, 
várias loucuras,
a vida batia sempre e eu perdia em curvas.
Caía em linha reta,
mudei pouco de direção,
vaguei por aí,
quis morar em várias bundas...
Enquanto sorrisos moravam na minha mente.

Eu voltei para casa, nem todos os dias, fisicamente.
Mas voltei, mainha, voltei.
Escrevia sobre o que parecia não me importar,
e adorei andar na linha entre a noção e insensatez.

Achei que o "auge" tinha chegado várias vezes,
percebi que ia ser cobrado por ser eu,
e ser eu era consequência, mais do que vivi...
De onde tiraram que a depressão que eu brigo é tranquila?
Tinha gente aqui por mim, sim!
Mas quando nem eu me suportava, cobrava,
e quando me contestava e todos se foram,
eu não quis estar só, estive.
Era eu e os demônios que me fizeram ali.

Vinte e tantos anos,
eu fui mediano como a maioria é, e isso já não me dói.
Vice de tudo, coadjuvante de mim,
personalidade forte, chato, defina-se assim.
Errei em muito, acertei as vezes,
Vi que na vida, a maioria dos sonhos não se alcança,
a vida dar prazeres, mas também te cansa.
Eu vi que ser adulto é apanhar da vida,
e querer voltar a ser criança.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Morte - Aleatório Necessário #5


 Eu não tenho medo das coisas que posso evitar, mas sim, do inevitável. Eu poderia evitar as coisas que disse, mas disse e por mais que tenha sido ríspido, grosso e irresponsável em tantas vezes, ser humano me dá a liberdade de errar até aprender e ser melhor. Eu disse.

 Ser criança é curioso demais. Ou pelo menos foi, pra mim. Eu passei por coisas que agora vejo que eram difíceis. E era uma criança, apesar de tudo, feliz. Meus traumas bateram agora, depois de começar a entender que tinha todo um processo antes da comida chegar em casa, e lembro que comecei a ter medo do futuro. Parecia que todas as fichas em ser jogador poderia dar errado, sabe.

 Mal sabia o que o futuro reservava a mim. Quando criança, tinha medo da morte. Me vendiam o inferno como opção, pois todas as coisas que levavam ao céu parecia tão longe de mim. Adolescente, perdi minha vó, e tive que noticiar minha mãe sobre, acho que ainda não entendia bem o que era tudo aquilo, e eu tinha perdido um bom colo para as minhas dores. 

 Daí em diante eu entendi que meu medo continuava sendo a morte, dos outros. Vivendo um paradoxo sobre o que viemos fazer aqui, o que essas pessoas realmente são e por que eu sofro tanto se elas estiverem mal? Eu vi meu pai chorar no enterro da minha tia, e notei que ali era dor e eu não podia fazer nada. E eu queria nunca mais passar por aquilo. Nunca!

 Mas e se eu for? As pessoas também vão passar por aquilo. Voltando ao paradoxo de viver para não deixar ninguém triste ou morrer para não ficar triste com a partida de ninguém. Acho que acreditam no depois por isso. Por não aceitarem que tudo acabou e fim. Que não tem ninguém olhando por você e que as lembranças vão se esvaindo como em todo ciclo.

 Eu queria descansar disso tudo, mas não tem muito a ver com morrer. A morte não tem volta, vai ver que eu não quero saber que minha mãe vai sofrer, as pessoas que supostamente me amam chorarem dizendo que eu sou eterno, sendo que eles são, nem o sol é.

 Dizem que o velório é para os vivos. Para eles pedirem desculpas e lamentarem o que não disseram. No devaneio da dor, real. A gente conversa com quem não vai mais nos ouvir, e lamenta ter errado tanto. Mas está tudo bem. Ainda é reservado o direito de ser humano, errar. Ninguém quer morrer. Apenas queremos descansar.