"Não lembro de tanta diferença das coisas que eu penso agora, comparadas as que eu pensava quando menino, imagino eu que ainda não deixei de ser aquele moleque sonhador, que adorava fazer as pessoas sorrirem, se sentia excluído por nada e achava normal falar sozinho e escrever poemas dos cadernos que a sua irmã tinha. Talvez eu nunca tenha crescido de verdade, o fato da barba agora incomodar quando eu a faço, me fez permanecer com ela por mais tempo, fez o meu pai olhar pra mim não mais como um menino que só queria ir nos sábados de manhã olhar o jogo dos adultos, ele olhou como se dissesse: "Caramba, meu filho cresceu tanto, até barba ele já tem..." E eu confesso que feliz todas as vezes que ele me apresenta para os seus amigos, com orgulho, nem sei por que, sou tão comum.
Mainha (sim, é assim que chamamos a nossa mãe aqui no Nordeste) sempre foi durona pakas, lembro-me das vezes eu tive engolir o choro "- Chore não! Você não apanhou ainda." Mal sabia o quando esse "engole o choro" seria necessário na minha vida. Cresci com a missão de ser melhor a cada dia, antes mesmo de conhecer a introdução da música A vida é Desafio, dos Racionais Mc's, principalmente a frase: "Por você ser preto, você tem que fazer duas vezes melhor."
Ainda pré-adolescente, eu só queria andar de bicicleta com meus primos, ir jogar bola sem hora pra voltar... Não tinha deixado de lado o hábito de escrever coisas dos cadernos da minha irmã, acho que tudo aquilo me fizeram chegar até esse texto agora (o que significa que eu cheguei a lugar nenhum, por enquanto).
Ainda programo as conversas que possivelmente eu vá ter durante o dia, ainda tenho inimigos "mortais", ainda procuro meios de vencer os vilões da minha vida. Ainda sinto um nó na garganta ao ver um animal machucado, ainda sou um menino com a mesma ausência de medo, pois o único medo que eu tinha era de me sentir só, e eu já me isolo e fico só naturalmente, isso é algo frequente e muitas vezes sinto que a saída pra desilusão de estarmos acompanhados, nascemos sem pedir, vivemos procurando um motivo pra tudo... Nem tudo requer explicação.
Eu só queria deixar as devidas menções à todas as coisas que me edificaram, creio que até as experiências desagradáveis ajudaram, os "amores eternos" foram essenciais pra me mostrar que nem tudo é para sempre. Os "vilões" me fizeram olhar atentamente meus ponto fracos e fortes, assim me deixaram mais preparados para um possível enfrentamento. Os meus heróis não morreram de overdose, eles me mostraram que todas as vezes que eu não estive no meu mundo fechado, eu poderia contar com seus "superpoderes", assim me sinto acompanhado por outros "alguéns", não apenas com meu amigo imaginário.
0 comentários:
Postar um comentário