As Razões de Um Louco #35 - Menino suicida

Garoto suicida, só pensava numa maneira mais "simples" de colocar fim naquela frustração que era ver seus sonhos serem jogados no lixo. Quando pivete era chorão, mas chorava sozinho, calado, tendo apenas o travesseiro como companheiro, a mãe nunca soube dos problemas, ele se sentia na obrigação de não lamentar nada para ela, era tão complicado ver o esforço da sua coroa pra arrumar a comida, com 9 anos era o "homem da casa", sentia-se velho, nem tinha noção do que poderia vir.

 Adolescência antecipada, ele ainda lembra que era tudo um pouco mais complicado financeiramente falando para ele. Sua bike foi comprada depois de muito suar trabalhando na oficina do seu tio, isso com 13 anos de idade. E esse fato até hoje o fez entender o valor de cada coisa conquistada, é, as dificuldades criam monstros, para o bem e para o mau. 

  Aquela sensação de viver num beco escuro, úmido apenas ficava mais intensa com o passar dos anos. Os rolês de bike com seus primos eram cada vez mais raros, como dizia Mano Brow; "Fiz 17, tinha que sobreviver, agora eu era um homem, tinha que correr." Corria por todos os lados, procurava algo que nem sabia, achou nada, o fundo do poço, até mostrarem a ele que o buraco era bem mais embaixo. 

 A ideia de que o ensino médio seria como num besteirol americano deixou de existir quando passou por lá. De fato era "legalzinho", mas a cada instante ele se sentia mais velho, mais cansado, desejava o fim sem ao menos saber o que viria. Hospital, preocupação, desintoxicação, mais uma vez sua mãe não ficou sabendo, esteve por um fio sua vida, vai vendo.  

 Sempre metódico, marcou data e motivos. Sempre quis saber qual seria a reação das pessoas com a sua morte. Mas nunca teve coragem/covardia suficiente pra conseguir de fato, mas ele se mata aos poucos, todos os dias, mata seus sonhos, sonha-os novamente... E de fato se sente velho, apesar de ainda ser apenas um jovem adulto, aquele menino suicida ainda está presente nos seus dias.