"O pensamento deve ser tão livre e extenso quanto o céu, que não prende ninguém, e ainda dá espaço pra que se possa voar."


RECEBA ATUALIZAÇÕES NO SEU EMAIL

sexta-feira, 15 de junho de 2018

COPA

 A minha primeira primeira lembrança de Copa é de acordar e ver a caixa de uma TV em cores, meu pai e seus amigos conversando animados, Brasil tinha sido Tetra, quebrado um tabu de 5 Copas sem vencer, Romário e Bebeto tinha feito chover lá nos EUA, Taffarel tinha pego demais contra a Holanda, e Baggio fez Galvão berrar feito um louco abraçado a Pelé. Meu pai me contou que ele comprou aquela TV pra ver a final pela primeira vez, e queria ver numa televisão em cores.

 Em 1998, eu já acompanhava bem o futebol, lembro da minha prima revoltada pela derrota contra a Noruega, lembro do jogaço entre a Argentina de Ortega e a Holanda, estava na sala de casa, vendo ao lado do meu pai, naquela mesma TV da Copa de 1994. Meu primo Diogo, sempre queria ser Taffarel nas peladas, culpa de Galvão Bueno e seu bordão "saai, saai, saai, saai, sai que é tua Taffarelllll!!". Na final, meu pai me levou pra assistir o jogo na casa de um amigo dele, tinha muita gente lá, desde então, prefiro assistir a jogos com poucas pessoas, ou só. O Brasil levou dois gols de Zidane, e voltamos pra casa antes do fim, eu vi a França vencer, e como todos naquela época éramos torcedores da seleção, era uma sensação de velório, ninguém sorria. 

 Chega o novo milênio, com ele, a primeira Copa na Ásia, a primeira em dois países ao mesmo tempo, a primeira com jogos de madrugada, apesar das brigas já fortes, meu pai ainda estava lá. Era sempre época de São João, lembro das fogueiras que ele fazia, lembro também quando deixou de fazer. Naquele Mundial, eu só queria ver Ronaldinho Gaúcho em ação, era muito meu ídolo no futebol, um dos que me fizeram querer ser jogador, eu com 11 anos, tinha certeza absoluta que um dia estaria ali, com todos que eu conhecia me assistindo e torcendo por mim, mas, bom, estou aqui vos escrevendo isso.

 Chovia na final de 2002, era manhã, e minha esperança de criança tinha certeza de que o Brasil venceria o jogo. Mais uma vez estava vendo uma final com meu pai, naquela mesma televisão 14 polegadas de 1994, ele tinha comprado fogos, a casa tava enfeitada e todo mundo ali comemorou demais os gols de Ronaldinho, mesmo sabendo e sou suspeito a falar, mas como meu pai dizia; "Rivaldo foi o craque da Copa". Depois da festa, Cafú eternizando o Jardim Irene ao levantar a taça, eu fui jogar bola na chuva, pois ali meu sonho estava sendo alimentado.

  2006 era o sonho, jogava, fiz testes, passei, mas ainda era um menino, mas tinha certeza de que estaria um dia na Copa. Aquela era a primeira que eu não veria com pai perto, ele tinha se mudado, e até as fogueiras eu tinha que assumir, era "o homem da casa" aos 15 anos, apesar de nem saber o que fazer da vida além de jogar bola. A Copa era legal de se ver ainda assim, sempre fui amante do jogo, mas a empolgação se foi com ele, e voltou com ele, no dia que Henry acabou com o sonho do Hexa. 

 A contestação sobre Dunga era clara, a seleção tinha vencido tudo até a Copa, mas o time não passava o brilho de outros mundiais, perdemos com gols falhos, de virada, adeus à primeira Copa no continente africano, a Espanha levou seu primeiro e único título até então.

 Chegou o Mundial no país do futebol, a Copa das Copas! Onde tudo fui superfaturado, mal acabado, e ainda tem obra que não terminou e tantas outras que pararam pra nunca mais voltar. Organização de cidades péssimas, porém, o futebol foi um espetáculo! Primeiro torneio do menino Neymar e justamente no Brasil, aquela tragédia para os amantes da seleção.

 Pouco antes e muito depois do evento, o povo brasileiro se tornou amante do mais novo esporte da moda: Ser crítico político de rede social e roda de boteco. Revoltados de ocasião, gente que só se incomoda quando o próprio calo é apertado. Eu já não morria de amores pela seleção, acho que era ver com meu pai que me fazia gostar de tudo aquilo. Até minha dor em ver que eu não joguei, e eu jurava que ficaria bem e seria descoberto por um clube grande... 

 Hoje me conformo em escrever isso, um dia depois do início do Mundial, entendi o que é ter o sonho frustrado como muitos moleques do Brasil, que só conseguiam ver a ascensão através da bola, não do ensino desfasado que temos. Lembrando que dá pra criticar as coisas erradas que temos ao nosso redor, fazer algo pra mudar e não se iludir vendo um jogo. Torcer contra a seleção brasileira não vai mudar seus hábitos nem do país, não acompanhar ou acompanhar, também não.


0 comentários:

Postar um comentário