Ser criança é curioso demais. Ou pelo menos foi, pra mim. Eu passei por coisas que agora vejo que eram difíceis. E era uma criança, apesar de tudo, feliz. Meus traumas bateram agora, depois de começar a entender que tinha todo um processo antes da comida chegar em casa, e lembro que comecei a ter medo do futuro. Parecia que todas as fichas em ser jogador poderia dar errado, sabe.
Mal sabia o que o futuro reservava a mim. Quando criança, tinha medo da morte. Me vendiam o inferno como opção, pois todas as coisas que levavam ao céu parecia tão longe de mim. Adolescente, perdi minha vó, e tive que noticiar minha mãe sobre, acho que ainda não entendia bem o que era tudo aquilo, e eu tinha perdido um bom colo para as minhas dores.
Daí em diante eu entendi que meu medo continuava sendo a morte, dos outros. Vivendo um paradoxo sobre o que viemos fazer aqui, o que essas pessoas realmente são e por que eu sofro tanto se elas estiverem mal? Eu vi meu pai chorar no enterro da minha tia, e notei que ali era dor e eu não podia fazer nada. E eu queria nunca mais passar por aquilo. Nunca!
Mas e se eu for? As pessoas também vão passar por aquilo. Voltando ao paradoxo de viver para não deixar ninguém triste ou morrer para não ficar triste com a partida de ninguém. Acho que acreditam no depois por isso. Por não aceitarem que tudo acabou e fim. Que não tem ninguém olhando por você e que as lembranças vão se esvaindo como em todo ciclo.
Eu queria descansar disso tudo, mas não tem muito a ver com morrer. A morte não tem volta, vai ver que eu não quero saber que minha mãe vai sofrer, as pessoas que supostamente me amam chorarem dizendo que eu sou eterno, sendo que eles são, nem o sol é.
Dizem que o velório é para os vivos. Para eles pedirem desculpas e lamentarem o que não disseram. No devaneio da dor, real. A gente conversa com quem não vai mais nos ouvir, e lamenta ter errado tanto. Mas está tudo bem. Ainda é reservado o direito de ser humano, errar. Ninguém quer morrer. Apenas queremos descansar.
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