"O pensamento deve ser tão livre e extenso quanto o céu, que não prende ninguém, e ainda dá espaço pra que se possa voar."


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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Sonhos perdidos na rua

 Esse fato ocorreu no último sábado, no Recife, e esse humilde escritor que lhes escreve foi quem vivenciou esse episódio. Não queria virar herói contando isso, apenas queria levar adiante esse gesto. Lembro-me de comerciais falando sobre o quanto as coisas boas podem ser difundidas, que gentilezas geram gentilezas e tudo mais. Passe adiante as coisas boas. 


"Ontem eu tava cansado, com dor e querendo chegar em casa, mas isso não é o mais importante. Estava eu no terminal do Cais de Santa Rita, tarde da noite. Já cheguei perdendo um ônibus, sabia que ia ser foda esperar, comprei duas coxinhas e um refrigerante, ia comer uma ali mesmo e levar a outra pra casa. Quando do nada, surgem dois meninos, aparentavam ter 12 anos, de inicio achei que poderia ser mais uns dos garotos que são abandonados pelo poder público e família, e ali estavam para cometer algo ilícito, mas resolvi acreditar que eram apenas dois meninos, só isso. Pediram licença, e sentaram perto de mim. Um deles tinha uma garrafa de cola, a roupa suja, e quem passava junto a mim olhava com desconfiança, como se dissessem; "olha esse cara, ele é louco, esse pivetes vão roubar ele daqui a pouco... 

 "A minha confiança em estar ali. Um deles perguntou se passava algum ônibus pra Paulista lá, disse que tinha que ir pra casa, mas que se ficasse muito tarde iria dormir na rua. O outro garoto saiu de perto, pra olhar um helicóptero que passava. Foi quando eu perguntei: - E ele, mora aonde? - O menino disse em tom triste: - Ele mora na rua, a mãe dele morreu. O dia que já não tinha sido dos melhores, do nada desabou. Senti um soco maior do que tinha sentido horas atrás por outro motivo. Estava ali vendo duas vidas que mal tinham sido iniciadas, sendo desperdiçadas nas ruas. O "neguinho", (apelido de um dos garotos), justamente o que tinha perdido a mãe e morava na rua, tinha um olhar vazio, olhava o helicóptero que sobrevoava a gravação de um DVD de uma dupla de cantores, falou-me que o palco era grande e bonito... E sim, era apenas uma criança. Dei minha coxinha a eles, e nunca me senti tão satisfeito. Matei minha fome dando comida a outra pessoa, e por mais que eu me sentisse meio bosta com aquela situação de não poder fazer nada mais, me senti feliz por ter um lar para onde voltar quando estive triste e com fome. Acho que o mais importante ali, foi eu ter dado importância, não ter ignorado, igual a todas aquelas pessoas ali ao redor. Lembro-me que eles perguntaram onde eu morava, o que eu fazia... E esse fato mostrou a quem estava ao redor que eles existiam, que precisavam de cuidados, não de desprezo."


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