"O pensamento deve ser tão livre e extenso quanto o céu, que não prende ninguém, e ainda dá espaço pra que se possa voar."


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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

VIDAS POBRES TAMBÉM IMPORTAM


 Há um superdimensionamento nas notícias sobre a violência urbana quando o prejudicado é "abastado", isso todos sabem. Mas, o que queremos saber é: QUANDO VIDAS PRETAS E POBRES SERÃO IMPORTANTES?  

 Em Agosto de 2016, dois jovens foram mortos por causa da "imprudência" de um motorista que sumiu do local do acidente, sem nem deixar seu nome, que só prestou esclarecimentos dias depois, e mal se sabe no que deu o caso, a mídia não se importou, nem pelo Ibope. 

 Mais recente, um jovem conhecido Leo, foi encontrado morto dentro de um canal aqui perto, ele era preto, pobre... A polícia, na data do crime, falou que o caso pode relação com homofobia. Ele engloba mais a estatística sobre a violência urbana no país. 

 Era um domingo, cedo da noite, um jovem cruzou um sinal numa avenida no Recife. Ele estava bêbado, com o carro bem acima da velocidade permitida, bateu em outro carro, matou três pessoas. Crime grave, que coube as punições que estão sendo impostas ao condutor. A mídia pernambucana caiu em cima, levantou o debate sobre o trânsito, a ALEPE (Assembleia Legislativa de Pernambuco) prestou homenagens às vítimas, cobrou rigidez sobre o caso. O que todos sabem é que um advogado influente, sua mulher, funcionária do TJPE, e seus filhos estavam lá, ah, e uma garota de 23 anos, grávidas de 3 meses também. 

 Vemos todos os dias, notícias sobre isso, o tempo inteiro, pois isso vende jornal, gera cliques e faz o Ibope subir. Vidas pobres não importam tanto. Eles eram "conhecidos" no Recife, digo, eles eram influentes, frequentavam a alta sociedade recifense. A babá, pouco falam sobre, tanto que ela é tratada, mesmo estando dentro desse caso, como segundo plano.

 Vidas se perdem todos os dias, a violência está aí para todos, mas ela só choca de fato, quando alguém fora do círculo da miséria se prejudica por causa dela. Falam dos assaltos nas áreas "nobres" com mais clamor do que dos homicídios nos bairros periféricos.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

NO TOPO



Ontem vieram me falar de diferenças
Não vieram com tanta aberturas
Tratavam o tema com indiferença
Como Hitler
Queriam supremacia
Onde maioria massacra
"Elite suprema"
"As minorias se adequam, ou desaparecem"
"Igualdade" disfarçada de extermínio 
Só que agora isso não se sustenta
Logo comigo?
Aqui não tem moleque rapá
Sou ex-menino 
Talvez não viva pra ver a harmonia
Talvez nem meus filhos verão 
Legado que começou na resistência escravagista 
Quando éramos piada em rede nacional
Os pretos não entendiam
Racionais e Sabota contaram
Seus sons ecoaram 
As minas se apropriaram 
Em local de fala delas
Os manos xiu, se calam
Faço parte do Estereótipo de Rashid
Sou o Moleque Doido de Projota
Sou o lendário Mandume
Onde todos oram 
Eu só peço a Deus, meu Inquérito
Me tire dessa
Mas me deixe ver, quieto 
A harmonia
Os mano
As mina
As mona
Os preto
Os pobre
Os branco
Os cristão
Os ateus
Os pagão
Unidos
No topo
Do topo
Do topo

terça-feira, 28 de novembro de 2017

ABRAÇOS

Reprodução/Internet


Dorme bem, menina
Bem menina
Bem...
Menina
Contrastes de cores
Junção de sabores
Do nosso filme
Atores
Anemia celular
Rima
Melanina 

Você é "meu padrão"
Amor, força e emoção
E mesmo sendo forte
Menina abre os braços
De olhos fechados
Procura afago
Ao tocar então
Suspiro forte
Na invasão dos medos
Mais de mil demônios
Em caravelas 
Como resistência
O amor é forte

Sabendo o que beira a felicidade
Mais clichê que o especial da Globo
Não aliena
Mas nos deixa bobo
De todas as casas que morei
A que eu mais habituei
Foi aquela em que eu sempre te vejo de novo
Onde nos deitamos na rede
Na cama
Sofá
Paredes
(...)

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

As Razões de Um Louco #84 - Aos 26

 Aos 6, achava que poderia ser o que quiser, aos 16, achei que não conseguiria ascensão pela educação, apesar de ir relativamente bem na escola, sempre me sentia menos, passei por ali achando que ia ser um jogador famoso que traria a mudança pra minha família, como a maioria dos jovens que sonham com isso. Não era muito bem um sonho, eu tinha certeza que seria assim, que estaria na Copa de 2014, fazendo o gol do Hexa do Brasil... Me machuquei, não tive chances, era bem mais talentoso que todos ali, mas todos ali eram filhos de sócios e tinham empresários. Aos 26, Só quero largar mais uma vez desse emprego que está desgastando aos poucos minha mente, e olha que ele é o menos pior que eu já tive. 

 Minha mãe sempre me mandou estudar, mas ela tinha vaga noção, e sempre ficou mais feliz quando eu fazia um bico qualquer na oficina, e chegava com o pão. Era pouco, mas vocês entendem, né? Pobre gosta de ter o que comer, e essa sempre vai ser a prioridade de quem pouco tem, e naquela época, pouco tínhamos. 

 Mudou um pouco, hoje não falta comida, temos uma casa que saiu do piso de chão batido, apesar dela ainda ser na ponta de um morro, ver minha mãe com medo da chuva ainda é ruim, mas eu tento passar segurança de que nada vai acontecer, mesmo sabendo que qualquer temporal desses a gente pode "acordar" lá na rua.

 Aos 26, ainda não sei se posso ter um grande crescimento econômico na vida, na real, não sei se devo depositar a minha felicidade nisso, apesar de saber o quão importante é ter grana, não criei as regas do mundo, mas elas estão aí. Os nosso sonhos são valiosos demais, e de certa forma, é complicado associa-los ao dinheiro, por isso meu sonho é ser feliz com que posso ter agora, com o meu pequeno salário, o que posso fazer pra me sentir bem? Talvez pegar um ônibus e ir ver minha namorada, ou me reunir com a melhor turma e tomar uns vinhos baratos. Meu sonho é ser feliz com o que tenho, não com o que ainda nem sei se vou conseguir ter. 

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

"CONSCIÊNCIA HUMANA"


 Me disseram uma vez, que se todos tivéssemos "consciência humana", jamais precisaríamos de um dia de "consciência negra". Até negros concordam com isso, e tanto quem disse, quanto os que concordam estão errados, ou mal intencionados. 

 Tentam a todo custo demonizar nossas religiões, fazem piadas infames a todo tempo sobre nosso cabelo, nossa pele, nossa dança e até de onde nossos antepassados vieram. Falam sobre o que passou como se de fato tivesse passado. Passado mesmo é o que ainda vivemos, a culpa da piada é você se queixar dela, onde a mulher preta vive só, pois só servem para ser a outra a "nega", pois não parece tão apresentável à família.

 Pedem para não dividir as pessoas por cores, o fim das cotas raciais, e caralho à quatro. Esquece de mencionar que preto é "padrão abordagem", mas dizem que não é pela cor, é pela roupa, é pelas tatuagens, ahhhh mano, cala a porra da tua boca, antes que eu te der um soco na cara.

 Pedem menos revolta, mas no Brasil, o racismo é silencioso, na maior parte das vezes, fazendo com que pequenos gestos sujos, pareçam menores do que a revolta do oprimido. E NUNCA CONFUNDA DISCURSO DE ÓDIO COM OPINIÃO. Opinião é aquilo que não difere, que só diz respeito ao individual, a SUA música favorita, o SEU gosto culinário.  

 Nenhum preto hoje é escravizado no Brasil, mas todos eles ainda sofrem as consequências do que aconteceu no passado. Da mesma forma, nenhum branco tem culpa do que aconteceu antes, mas TODOS ELES ainda são beneficiados pelo mesmo motivo.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O MARCO, DO ZERO


 Era um dia comum, de felicidade comum. Passamos o dia todo deitados conversando, sorrindo, vendo filmes, transando... Um dia bem casal. Dormimos na minha casa, almoçamos, fomos pra dela, nos arrumamos, saímos.

 Encontramos a mesma turma, sorrimos, brincamos, ela bebeu por nós, aquele vinho que a gente adora, eu estava dirigindo, não deu pra mim naquele dia. Tudo era comum, casual, mas apenas quem está de dentro sabe perceber a delicadeza de cada momento.

 Nos afastamos um pouco da turma, ela já estava bem "alegre" depois da sessão de fotos que ela sempre me obriga a fazer, onde eu participo para guardar na posteridade o quanto a minha mina era e continua sendo linda. 

  É difícil dissimular quando se está embriagado, assim, soube de todos os planos dela, e sobre toda a admiração que ela tem por mim, e sei lá, parecia que todos os erros estavam fazendo algum sentido pela primeira vez na vida. Eu queria estar ali com ela, e era como se fosse a primeira vez de tudo.

  Não adianta ser mentiroso, dizer que nunca estive ali com outra, que nunca achei que era "para sempre" e que aquele onipresente vendedor de flores artificiais nunca me vendeu alguma de suas flores, se depender dele, ele vende até pra você dar ao seu amigo. Não adianta dizer que nunca ouvi tudo aquilo, nem que jamais acreditei em outras promessas, isso seria uma inverdade absurda, que nem ela acreditaria.

 Ela é minha fé, creio que disse isso algumas vezes, pois, depois de tanta surra emocional, ela me faz ter algo bem mais profundo, sendo que nem eu acreditava que poderia mais ter, achei que tivesse morto, jurava que tinha aposentado esse meu lado.

 

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Quem é que tem coragem pra falar de amor? - [Poesia Acústica #3 - Capricorniana]

 "Eu sagitariano e ela escorpiana 
Ela bate e ama, ela toca e mama 
Era pra ser mais um romance, mas nós dois faz drama 
Antes da parte do pornô que a gente faz na cama
E o mais sinistro é que tu sabe que elas me quer 
E eu sei que eles te quer, mas nós dois só quer 
Cantando a nossa música, transando num hotel 
A gente chora, porque eu preciso ir embora..."



 Seja bem vindo à música popular brasileira! Um sambinha, um violão, RAP e grandes artistas, combinação perfeita para fazer uma bela música. Desde a Poesia Acústica #1 o projeto só faz crescer. A #2 é maravilhosa, a #3 não fica atrás.

 
Reprodução/Internet



sexta-feira, 10 de novembro de 2017

É COISA DE PRETO



Se arriscar nos busão pra ganhar uma grana
É coisa de preto!
Ser jogado às margens dessa sociedade imunda
É coisa de preto!
Problemas na escola, "cabelo ruim"
É coisa de preto!
Guardar rancor e tristeza, profundas
É coisa de preto!
Ele é "bonitinho" apesar de ser nego 
É coisa de preto!
"Não era pelo cor, era apenas rotina"
É coisa de preto!
O tapa na cara aleatório
Símbolos sagrados quebrados
Sentimentos jogados fora
A piadinha mais comum
"É muito mimimi"
"Hoje tudo é racismo"
O medo de ser acusado depois do estupro
"Meu filho, por você ser preto, você tem que ser duas vezes melhor"
Chorar pelo pai que morreu na bala
O menino encontrado na vala
É coisa de preto! 
A Cláudia arrastada
A injustiça contra Rafa Braga 
O filtro negro dos presídios
Os moleques de rua que passam fome
Que mágoa
É coisa de preto!
Marighella, Zumbi, Dona Ana, Kunta Kinte
Rashid, MV Bill, KL Jay
O Tio da Barraca, sua mãe, eu você
Somos coisa de preto!
O ouro roubado na nossa terra
As fronteiras fechadas de quem nos roubou
O olhar de quem enxerga apenas lágrimas
Os livros que não são tão reais
A felicidade do menino de Angola
De quem tem pouco, temos também, amor
As coisas boas que temos 
Séculos de revés
As crenças
Tentaram até acabar
Mas somos fieis.
A revolta que se cria
Os tapas que daremos de volta
A derrota da Klu Klux Klan
Soco na boca de quem me chamar de "neguinho"
Rodo em quem elogia a preta apenas pela bunda 
É coisa de preto!
Nós é Nero nas quebradas
Vai rolar fogo nessa raça imunda!

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

As Razões de Um Louco #83 - Ego

  Ontem, no caminho de volta pra casa, onde eu gasto normalmente uns 25 minutos, demorei horas. E apesar do meu corpo ter chegado à minha cama, não sei se minha essência conseguiu trilhar o mesmo destino. 

 Entre delírios, buzinas e faróis, tive mais uma longa conversa comigo mesmo. Disseram-me que invariavelmente as pessoas se isolam e desejam estar sós, e eu bem sei disso. Eu sei que todas as vezes que meu olhar fica vazio, e eu estou "só" no meio de todos, é porque algo que ninguém ali presente pode me dar, e não há escolha nisso.

 Deitei na cama vazia, respondi às conversas clichês, joguei aquele joguinho igual e não estava ali, ainda. Tomei meu café amargo, fiz meus poemas simples, e tive os mesmos sonhos e pesadelos comuns, coisas que são inevitáveis na minha vida. 

 Queria resolver os problemas dos que amo, aquela falha emocional da minha amiga, a dificuldade financeira do brother meu, aquela liberdade do meu primo... Enquanto me ocupava com todas as responsabilidades do mundo, esperava que ele fosse recíproco, esperava que me esforço não fosse inútil e ignorado, só esqueci de resolver minha vida.

 Acordei e vi que minhas prioridades tinha sido deixadas de lado, que era eu mesmo o responsável por toda essa turbulência jogada debaixo do tapete. Me peguei chorando, durante uma conversa noites atrás, onde, mais uma vez, a vida me bateu no rosto, e eu percebi que enquanto eu lamento a falta de reciprocidade, eu deveria ser mais justo comigo mesmo, pois ninguém faria por mim se eu mesmo não fizesse. 

terça-feira, 7 de novembro de 2017

ANTI-HERÓI



Ninguém é duro como pedra
Nem sempre dá
As vezes é inevitável, chorar
Sabemos o quão são doídas 
Tratar as feridas após as quedas
Temos receio de recomeçar
Dar passos na mesma direção
Mesmo sendo com pessoas diferentes
Lembranças nas ruas
Nas fotos
Nos olhares
Na alma
São de todos
Inclusive nossas
Minhas, suas... 

Tenho a obrigação moral de ser recíproco 
Pois, assim saberei que dei o melhor de mim
Como se o futuro não existisse
Como se não houvesse promessas
Apenas a vontade de fazer 
O que deve ser feito?
Viver! 
Se não pelo prazer
Pelo abafar da dor
Pela manutenção do amor
Os abraços, o amor
Que seja eterno 
Pelo menos por duas vidas
Mais.